sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O pior

Você não veio. A mim, restou o de sempre: a mensagem não respondida, o celular apagado, indicando a ausência dos seus sinais. Restaram os seus silêncios espinhosos, sua gélida indiferença, aquele abraço gostoso que não pode ser dado. Restou o lado vazio da cama, a porta trancada, a certeza da dúvida. Demorei a dormir, me remexendo para os lados o tempo todo. Mas, não era uma posição o que eu procurava. Era você.

Ontem, juro que senti vontade de sair gritando pelas ruas, até esvaziar totalmente meu pulmão de ar. Quem sabe assim também você sairia um pouco de dentro de mim, liberando algum espaço para que eu possa ocupar-me. Ando por aí fragmentado, parecendo umas dessas dobraduras que as crianças fazem para impressionar os pais. Me dobro todo pra ver se caibo no pequeno espaço que você me reservou em sua vida, mas nem neste cômodo apertado você me deixa ser inteiro. Nem no pouco você me deixa ser muito.

E por mais que eu queira enfeitar sua vida, você não me deixa ficar na sala. E por mais que eu queira te proteger do vento, você não me deixa fechar as janelas. E por mais que eu queira ficar por perto, você mantém trancas e cadeados em todas as entradas. E por mais que eu te ame, você insiste em correr desse sentimento, como se ele fosse te engolir a qualquer momento. Tem sido difícil pra mim amar tanto e ver tanto amor sem ter proveito. Tanto amor querendo te fazer feliz, mas só conseguindo escrever este texto triste.

Aí, de repente, me lembro daquele tempo em que éramos, exclusivamente, amigos e você não passava um final de semana sem me perguntar o que iríamos fazer. E me dá uma saudade danada de ter um quarto só meu na sua vida. Hoje, divido a cama com seu desespero, que não me deixa nem sequer ver seu sorriso da janela. Naquele tempo, minha presença era capaz de dar significado aos seus espaços vazios, meu brilho tinha força para preencher suas lacunas obscuras e sem cor. Agora, apenas o que vejo são linhas tortas, um texto sem pontuação, um castelo abandonado, prestes a ruir. É pena que minha voz não seja mais ouvida pelos súditos que restaram dentro dele.

Seu abraço é um foguete que me leva para passear entre as estrelas. Sua companhia é um barco que me conduz por entre o mar das alegrias mais gratuitas e belas. Seu sorriso é uma estrela brilhante, cintilando sozinha num céu totalmente escuro e apagado. Você me acende por dentro, com este seu olhar de arco íris, com este pote de ouro do outro lado do coração. Por isso é que é tão difícil me conformar com suas mudanças.

Não sei, mas acho que tudo que você está fazendo são seus esforços inconscientes para me perder. Você não me faz mais companhias nas noites que surgem em pleno dia, não me leva mais pra passear pelo seu planeta, não me abre mais as portas dos seus mistérios, não me conduz mais por entre os caminhos da sua alegria. Você está se esforçando pra eu deixar de te amar. E o pior é que nem assim você consegue. E o pior é que nem assim eu deixo de pensar em você, e de acreditar em nós, e de querer que você me abrace, e de sentir que ainda tem jeito, e de te amar hoje, e de ter certeza que te amarei amanhã, e semana que vem, e no próximo mês, e para sempre.

2 comentários:

  1. Quem me dera ter alguém como você ao meu lado. Uma pena que nem todos saibam dar valor a isso...

    Beijos!

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  2. "Aí, de repente, me lembro daquele tempo em que éramos, exclusivamente, amigos e você não passava um final de semana sem me perguntar o que iríamos fazer." ... o passado que nunca mais volta... perfeito

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