sábado, 12 de novembro de 2011

Aquelas pessoas

Eu não sou como aquelas pessoas que varam a noite dançando em baladas porque perderam o próprio ritmo, que gritam demais porque não conseguem ouvir a si mesmas. Não, não é possível que eu seja como aquelas pessoas que se vestem de discípulas para se fazerem passar por Judas e, com um beijo traidor, condenam à cruz o coração de quem as ama. Elas fotografam os momentos de suas vidas apenas para postar no Facebook, sem se preocuparem em registrar as emoções onde realmente importam: dentro.

Hein?! Não é possível que eu me pareça com aquelas pessoas. Elas fingem não ter visto o semáforo amarelar e cruzam, a 120km/h, a vida de quem quer que seja, sem se preocupar se algum sonho será atropelado pelo caminho. O que? Não, não sou desse jeito. Aquelas pessoas é que são carnívoras, se alimentam de almas, devoram a felicidade dos outros somente para provarem que a musculação deu resultado, ao passo em que também demonstram que seus braços desenvolveram mais do que seus cérebros.

Pare de me dizer isso, pois, definitivamente, eu não sou como aquelas pessoas, que necessitam da cerveja para extravasar, que saem tanto da linha que acabam perdendo o controle de suas ações e rolam numa ribanceira qualquer. Você está querendo me machucar, não é? Chega de apontar que eu também me escondo dos meus medos, que também tomo minhas decisões lançando um “cara ou coroa”. É mais confortável ficar daqui, enfiando o dedo nas feridas alheias, enquanto as minhas próprias seguem sem tratamento. Meu interior está cheio de pus.

Aquelas pessoas são o inferno, porque me mostram minha verdadeira face, porque me apresentam às consequências de minhas atitudes. Sim, elas é que me sacodem, pronunciando palavras que me arrastam de um lado para o outro. Não adianta fugir daquelas pessoas, pois, quando menos espero, elas surgem, como caixinhas de música que jamais perdem a corda, como charadas das quais nunca descobrirei as respostas. Não quero mais me encontrar com aquelas pessoas, elas são meu espelho, e eu não gosto de me ver.

Eu não sou como aquelas pessoas que se sentem juízas das atitudes de quem as cerca, que sentam sobre seus próprios defeitos para proferir a condenação do outro. Não sou dessas que deixam de perdoar, condenando alguém à prisão perpétua, degolando esperanças almejavam muito continuar respirando.

Na verdade, sou pior, porque estou algemado pela hipocrisia, vivo no calabouço escuro no qual a demagogia me lançou. A luz do sol não areja mais minhas ideias, de modo que achei melhor me acomodar e aguardar até que chegue o terceiro dia. Estou trancado por fora, sem poder me ver de perto, e, por incrível que pareça, somente aquelas pessoas têm a chave que poderão me ajudar a chegar de novo ao lado. De dentro.