domingo, 26 de abril de 2009

As primeiras que a gente não esquece


É estranho como alguns momentos da vida marcam para sempre o solo da existência da gente. Desde um pequeno suspiro até um grito exagerado, são diversas as situações que determinam permanência eterna em nossas memórias. Mas, quem se atreve a discordar da tese de que o que mais marca são “as primeiras”. Ou “os primeiros”. A ordem não altera o resultado dos produtos. A primeira namorada. O primeiro beijo. A primeira chuva de verão. O primeiro sol da primavera.

A primeira balada sozinho, perdido em meio a luzes e pessoas; abandonado a própria sorte, esquecido em si mesmo. O primeiro suspiro daquela paixão bandida, que te pegou desprevenida em uma manhã monótona de segunda-feira, onde não se espera nada de lugar nenhum. O primeiro susto causado por este sentimento... Ah, a primeira lágrima que ele te fez derramar. E também as outras primeiras que, embora tenham vindo depois, doeram tanto que pareciam inéditas, únicas. A primeira saudade, que tornou-se segunda, terceira...

A primeira troca de olhares com aquele amor verdadeiro, nascido aos 45 do segundo tempo em uma balada frenética de sábado a noite. A primeira briga com este amor. A primeira dúvida: “será que é mesmo verdadeiro, pra sempre?”. A primeira decepção com o “pra sempre”. O primeiro contato com o “por enquanto”. A primeira reconciliação. As “primeiras” que vieram em seguida. E a primeira triste constatação de que até os verdadeiros amores encontram, um dia, a linha de chegada. A primeira despedida.

O primeiro porre, tomado por conta da primeira despedida. O primeiro novo amor. A primeira nova namorada. A primeira alegria do gol marcado. O primeiro filho. A primeira palavra pronunciada. O primeiro “eu te amo” ouvido, aquele que, embora escutemos milhares, jamais esqueceremos cada vírgula e ponto pronunciados. A primeira mentira contada aos pais. A primeira descoberta. O primeiro emprego. O primeiro dia de aula. A primeira faculdade. O primeiro amigo, aquele que, por sinal, continua ao teu lado até hoje.

E quantas outras primeiras ainda estão por vir? Outros amores ainda se mostrarão tão fortes e avassaladores que serão similares, quase idênticos, ao primeiro. Cada minuto é o primeiro de uma nova chance de ser feliz. Cada dia é o primeiro e pode também ser o último. Aliás, não sei direito o que mais nos amedronta: se “as primeiras” ou se “as últimas”. No entanto, este assunto é pra outro pensamento. O que vale é a experiência de que a cada manhã temos novas “primeiras” para nos aventurar. Preparados?