terça-feira, 1 de junho de 2010

Feliz sem saber

A prostituta que vende o próprio corpo por uns trocados, embora pareça que não, está em busca dela. Os pombinhos, recém-casados, se uniram para saber onde ela está; os namorados separaram-se para ver se a encontram. Todos vivem ávidos pela felicidade, mas justamente por considerá-la algo tão inalcançável é que permitem que ela escape. Se entendêssemos que a felicidade é algo simples, poderíamos ser felizes sem saber.

“Por que é que, para ser feliz, é preciso não sabê-lo?”, indaga o poeta Fernanda Pessoa. Buscamos ser felizes por algum motivo específico, negando a máxima de que a verdadeira felicidade é aquele sentimento que surge sem raiz aparente. Felicidade é aquilo que dá no coração nos momentos em que a gente está mais distraído, e por isso mesmo não percebe a grandeza do que está acontecendo. Ser feliz com motivos é fácil, difícil é perceber a essência da verdadeira felicidade.

Somos felizes sem saber quando temos alguém que se preocupa conosco, que pleiteia um lugar em nossa vida, que se preocupa quando as coisas não vão bem e se esforça para que a situação melhore logo. Não sabemos, mas somos felizes com aqueles amigos com quem jogamos conversa fora; somos felizes naqueles momentos em que não sabemos valorizar, mas que, de fato, dão rosto e vida à nossa felicidade.

Ser feliz sem saber é aprender a valorizar as situações cotidianas da vida, que podem até ser comuns e corriqueiras, mas que nunca serão banais se nós não nos tornarmos tão medíocres ao ponto de olhá-las como tal.

Nos tempos de hoje, o amor é visto como um impedimento ao prazer e a felicidade, quando ele é, na verdade, o principal caminho para viabilizar a excitação que esperamos nas baladas, que só são cheias de felicidade aparente e rasa, onde não poderemos nos afogar nem tampouco mergulhar mais fundo em busca de entendimento.

Buscamos na beleza passageira e nas alegrias efêmeras um sentimento duradouro, que, é óbvio, nunca será encontrado. Ser feliz sem saber não se trata de mágica; é apenas um novo olhar sob a vida.

Talvez, sejamos felizes sem saber durante grande parte da vida, mas, adormecidos, fechemos os olhos para esta felicidade genuína, que só será percebida como tal quando for tarde demais e a solidão tocar como despertador. Aí, acordados, perceberemos que já era: éramos felizes demais e não sabíamos.

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