domingo, 25 de outubro de 2009

Quando eu choro

Não é segredo pra ninguém a admiração que tenho por toda obra literária da escritora e poetiza gaúcha Martha Medeiros. Recentemente, li com entusiasmo “Selma e Sinatra”, livro fantástico em que a autora narra o encontro entre duas mulheres: Guta, jornalista frustrada em busca do sucesso, e Selma, que na trama é uma das maiores cantoras da Música Popular Brasileira.

Entre inúmeros momentos eletrizantes e frases marcantes, o trecho de um diálogo entre essas duas mulheres – que de tão reais parecem conversar conosco – me chamou a atenção. Em sua tentativa de conhecer Selma além da casca dura, Guta lhe pergunta algo curioso: “Quando você chora?”.

Mais a frente, a cantora começa com a seguinte frase um discurso emocionante: “Você queria saber quando eu choro? Choro quando estou sozinha, quando ninguém está vendo”. A declaração de Selma para Guta, gravada em uma secretária eletrônica, é uma prova evidente da humanidade de uma pessoa que até então parecia intocável. São os nervos expostos de um ser humano que costumava se travestir de super herói.

Quando li a pergunta de Guta, pensei: “E eu, quando choro?”.

Choro quando cai minha chave geral e minha energia fica comprometida e, sendo assim, tento irradiar luz e não consigo. Choro quando alguns fios desencapados dentro se chocam e produzem uma explosão que se reflete fora. Também choro nos momentos em que me sinto sozinho, no entanto, isto geralmente acontece quando estou muito acompanhado. Choro quando meus olhos cegam, mas deveriam urgentemente enxergar.

Minhas lágrimas molham o chão de meus cômodos interiores quando troco pontuações: onde deveria perguntar, exclamo; onde deveria pausar, sigo. Choro quando pontos finais são colocados em situações em que eu gostaria muito de por vírgulas, quando os travessões escapolem de mim e não sou capaz de dizer o essencial que, guardado, mofa. Choro quando perco a agulha que utilizo para costurar o que em mim fica solto; e não se enquadra. Choro quando verbalizo onde o melhor seria calar.

Choro nos dias em que não consigo me lembrar da cor do meu sorriso, de saudade de quem se foi, sentindo falta de quem está longe. Choro quando os dias não têm mais cor, pois eu mesmo deixei de colori-los com os pincéis que tenho. Choro quando tenho medo de mim mesmo, quando não consigo achar a saída e fico perdido dentro. Choro quando desisto, mas o melhor seria seguir em frente.

Meu choro é assim: meio dama, meio vagabundo; meio fantasia, meio real; um tanto quanto autêntico, mas também fajuto. Minhas lágrimas nem sempre são visíveis a olho nu; em muitas ocasiões é preciso um pouco mais de sensibilidade para percebê-las. Choro quando sou rendido pelas armas que eu mesmo guardei.

Conjugar o verbo chorar em diversas flexões e tempos não me preocupa. Tenho medo é de secar, de não ver mais brotar de minhas terras secas a renovação que tanto busco. Ter vergonha de chorar é o mesmo que envergonhar-se de nossa humanidade, que de tanto ser escondida, morre sufocada dentro de nós.

7 comentários:

  1. Ah!! A primeira *.* rs
    Ta lindo. Amei o penúltimo parágrafo. Como sempre, o que só você sabe dizer. Perfeito Felippe.

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  2. escreveu essa pra mim né,
    " choro quando pontos finais são colocados em situações em que eu gostaria muito de pôr vírgulas"
    choro de saudade, choro da falta, choro por coisas guardadas, raramente choro só no meu intimo, nao gosto de me mostrar fraca, e na minha cabeça choro é sinal de fraqueza, eu sei que vai demorar entrar na minha cabeça que é coragem. talvez seja por conta da minha mascara de heroína. às vezes quando choro sem motivo me sinto mais leve. faz bem. não gosto de admitir isso ;x
    ta vendo só, me fez admitir ;x

    (L)

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  3. Choro nos dias em que não consigo me lembrar da cor do meu sorriso, de saudade de quem se foi, sentindo falta de quem está longe.

    preciso dizer mais alguma coisa ? ;)~
    acho que voce sabe do que eu quero dizer né irmão ? ^^

    como sempre, maravilhosa a crônica o/~
    malz a dmora pra comentar é que eu to abafadão com a parada da autoescola ;D~

    aquele abraço ! se cuida ;D

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  4. Simplesmente incrível.
    Sem palavras.

    Beijão

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  5. pqp... com certeza essa é uma das melhores crônicas suas q eu já li...

    "Também choro nos momentos em que me sinto sozinho, no entanto, isto geralmente acontece quando estou muito acompanhado."

    preciso dizer mais nada ne...

    amo-te

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  6. O Choro em suas várias maneiras...Complicado não?rs...É Lippe...as vezes choramos mesmo...e as vezes é choro se torna invisivel aos olhos de muitas pessoas...Somente as mais sensiveis conseguem perceber...e pode ter certeza que sao estes choros, que fazem com que venhamos realmente necessitar de um ombro amigo..ou um simples abraco...Quantos choros?Quantas lagrimas?enfim..amigo, tudo isso faz parte da evolucao..como sempre vc tocando nos pontos das pessoas e quem sabe nos momentos que elas estao passando...Amei...

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  7. Nossaa cada dia que leio suas cronicas elas estao mas lindas e a cada leitura me identifico ainda mas com o que elas dizem..

    cada nova postagem suas cronicas ganham vida no mundo de alguem que as lê... adorei e concordo com o que o júnior escreveu essa e uma das melhores ... me identifiquei mt com ela !!

    Sem palavras !!
    adoroooo!!

    bjim e bom feriado!!
    (bárbara terra)

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