segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Boa sorte

É de praxe. O filho sai para prestar o vestibular e a mãe, após abraçá-lo, diz “boa sorte, menino”. O amigo vai tentar a vida em uma outra cidade e o outro, com voz abafada pelo choro, sussura “boa sorte, brother”. A namorada consegue um novo emprego e o parceiro lhe diz “boa sorte, amor”.

Desde quando nos entendemos por gente – se é que nos entendemos – essa expressão está presente no meio de nós. A sorte é caçada por todos como um trunfo a ser guardado na manga, como uma companhia indispensável nas situações mais decisivas da vida.

Queremos sorte em uma entrevista de trabalho, durante o encontro com um novo pretendente a ocupar nosso coração, ao apostar na loteria. Sorte para encontrar uma nota de R$ 50 jogada na calçada, sorte para não perder dinheiro. Sorte no momento de decidir para qual lugar viajar, para optar por qual caminho seguir. E, é claro, sorte no amor. Essa, sem dúvidas, a mais almejada da categoria. Alguém aí não quer tê-la?

Buscamos a sorte, inclusive, para torná-la um álibi de nossos erros. É mais fácil dizer que foi falta de sorte do que reconhecer nossa própria culpa diante de um fracasso. Não é por falta de sorte que nos esquecemos de nós mesmos.

Há algum tempo, namorei uma pessoa que tinha o costume humano de me desejar boa sorte nos momentos determinantes da vida. Quando fui prestar o vestibular, ela me disse em alto e bom som: “Boa sorte, querido”. Em outras situações, quando eu ouvia de sua boca essa expressão, pensava muitas coisas.

“Sim, amor, quero ter sorte para conseguir o impossível para nós dois, para impedir que o intangível atravanque nossos sonhos. Oh, Deus, conceda-me sorte ao atravessar a rua, para que nenhum mal me acometa e eu consiga voltar inteiro – alma e corpo – para os braços de quem amo. Desejo sorte para que meus olhos possam pousar novamente sobre a pessoa que tanto eles gostam de observar, sorte para que o brilho retido na pupila não se perca pela falta dela. Sim, sorte. Para que a gente não se perca nunca, para que a partida não termine enquanto tivermos fôlego para jogar. Sorte para não disputarmos com nosso próprio ego; sorte para não pressionar o botão que interrompe nossa conexão consigo próprios”.

Quando a sorte, que prefiro chamar de amor, afastou-se de nós, nosso relacionamento cruzou a linha de chegada. Antes de desligar o telefone, pude ouvi-lo me dizer, ainda que engasgado: “Boa sorte, querido”. Acho que tive sorte. Só comecei a chorar quando cheguei em casa.

5 comentários:

  1. sempre peço boa sorte a Deus nos momentos decisivos, mas muitas vezes não acontece, e acabo chateada comigo mesma em achar que sorte existe, sorte somos nós quem fazemos a nossa própria. é mais fácil culpá-la por algo errado que fizemos e depois dizer dizer que foi melhor assim que não foi um dia de sorte. eu quero sorte na vida, tô me sentindo em uma encruzilhada sabe, muitas direções e eu parada tentando adivinhar qual é a melhor.

    viu só, sempre acabo pensando lendo suas crônicas, HUAUHAUHA, adoooro *-*
    saudades, vê se no fim do ano você vai me encontrar eim, fiquei triste de não ter te visto da outra vez :/

    amo você (L)

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  2. "Sorte para não disputarmos com nosso próprio ego;"

    ADOREI ISSO! aliás, adorei a cronica inteira, como sempre ne...

    Parabens amigo e...
    "Boa Sorte..."

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  3. Nossa o que dizer mais uma vez?Arrasouuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu...Lindo como sempre...

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  4. essa até me emocionou!

    lindo lindo lkindo lippe!
    sem palavras dessa vez :$

    beijo amore!

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  5. Realmente lindo :)

    beijo querido!

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