terça-feira, 13 de outubro de 2009

Perigo na estrada

O número de acidentes na estrada da vida tem sido cada vez maior. Corações acelerados derrapam na curva, sentimentos sem freio causam estragos e a colisão entre a sanidade e o desespero culmina em perda total dos relacionamentos. É uma pena que tantos motoristas imprudentes estejam no volante, sem se preocuparem em dirigir corretamente suas vidas. Esbaforidos, vivem perigosamente para desviar do risco que é encarar os próprios olhos. Por tanto perigo a troco de nada, perde-se o rumo de casa, esquece-se da estrada pra dentro.

Tenho medo do desespero que ronda a mente dos condutores. Receio que, na tentativa de fugirem de algo, acabem escapulindo de si mesmos. Não é necessário conduzir os dias em desespero. De vez em quando, é preciso parar um pouco, puxar o freio de mão e reavaliar se as rodovidas que temos escolhido seguir são as mais adequadas para se chegar a um destino feliz. Talvez com menos barulho seja possível escutar a própria voz, aquela que a gente não ouve há muito tempo.

O mais importante não é a velocidade com a qual conduzimos a vida; o que vale é a direção, o caminho que escolhemos para percorrer. Não adianta correr pra lugar nenhum. Sozinho, talvez seja possível observar melhor os afetos que nos faltam e os excessos que nos afetam negativamente. Aliás, quase sempre são os excessos que nos atropelam. Clarice Lispector, uma das jóias mais valiosas da Literatura Brasileira, escreveu: “Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só queria ter o que eu tivesse sido e não fui”.

Com o carro transitando sempre a 120 km/h, inúmeros viajantes que gostariam muito de seguir viagem conosco ficam pelo caminho. Algumas pessoas esquecidas na estrada poderiam nos engrandecer com seu sorriso, mas nossa ânsia de chegar depressa a lugar nenhum nos impede de enxergar quem está fora e quer entrar.

As paisagens distorsem-se quando o carro se mantém constantemente em alta velocidade. Amores que se tornariam importantes minguam diante da janela. A visão de quem só vive correndo não alcança os instantes sublimes que estão escondidos nos pequenos gestos cotidianos: abraçar para acolher, beijar para curar, olhar nos olhos para conhecer, perdoar para salvar, amar para viver. A flexão e relação desses verbos ficam perdidas nos ponteiros do velocímetro.

O perigo na estrada é constante. Estamos na contramão de nossos sonhos, fazendo a curva onde deveríamos seguir em frente, retornando quando nosso coração pede para ir adiante. Nossas placas de sinalização estão invertidas. Há sinais de “estacionamento proibido” em muitos corações que precisam ser ocupados. O “não vire a esquerda” está constantemente posicionado dentro. É preciso reavaliar nossas leis de trânsito, arejar o código adotado para transitar pelas estradas. No semáforo da vida, vamos ligar o sinal vermelho para o que nos impede de ser feliz, manter o amarelo diante de cruzamentos perigosos e dar o verde para nós mesmos.

6 comentários:

  1. adorei, as vezes eu me pego pensando se estou no caminho certo, pedindo pra continuar reto sem mt curva, mas as vezes fico feliz com as curvas que acabo dando sabe, acabo indo parar em lugares que nunca imaginei. como hoje em dia, nunca imaginei q td aconteceria como aconteceu e eu estaria aqui, com um sorriso enorme no rosto.

    saudades, te amo

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  2. adorei isso... me fez lembrar uma conversa nossa de um tempo atras, q resultou ate numa cronica +/- parecida com essa se nao me engano...

    adoooooro o que vc escreve!

    sou seu fã!

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  3. fico impressionada com a clareza que você consegue enxergar tudo, a vida mesmo. parabéns! e vamos esperar que as pessoas consigam o sinal verde para elas mesmas como você disse.

    lindo demais tudo aqui :)
    beijo ;*

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  4. De vez em quando, é preciso parar um pouco, puxar o freio de mão e reavaliar se as rodovidas que temos escolhido seguir são as mais adequadas para se chegar a um destino feliz. Talvez com menos barulho seja possível escutar a própria voz, aquela que a gente não ouve há muito tempo.

    Se você soubesse o quanto ler isso me fez bem agora, garanto que entenderia quando eu digo que suas crônicas são capazes de tocar até os mais frios corações.

    Sempre Arrazano Lippe!
    parabééééns mais uma vez!

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  5. e aí felipe! muito obrigado por visitar meu blog e também por comentar em meu post. fiiquei muito satisfeito. é muito bom saber que existem pessoas que gostam de ler meus textos. eu já tinha visitado seu blog numa outra oportunidade e gostei bastante. com certeza irei voltar mais vezes. se me permite, serei seu seguidor aqui! grande abraço. volte sempre! abraços! guTo.cariellO

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  6. "Nossas placas de sinalização estão invertidas. Há sinais de “estacionamento proibido” em muitos corações que precisam ser ocupados."

    ;)~~

    as vezes as pessoas tentam se proteger dos sentimentos com medo de se magoar mais uma vez,
    só que elas podem acabar perdendo a chance de encontrar o que procuram com essa defesa !

    mais uma vez maravilhoso ! o/~
    =)~

    vou procurar artivos sobre Clarice ;D~
    pelo que voce me disse, vale a pena o/~


    aquele abraço irmão o/~

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