segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Devíamos contar

Existem dois ítens que não podem faltar no meu armário: livros e séries de TV. Coleciono inúmeros DVD’s de seriados premiados, como “The O.C” e “Grey’s Anatomy”, entretanto, desde que conheci “Desperate Housewifes”, passei a colecionar também, na memória, frases memoráveis e diálogos intrínsecos, que quase sempre me levam ao silêncio do recolhimento e da reflexão. Cansada da mesmice do seu dia a dia, Mary Alice decide tomar uma atitude radical e colocar um ponto final em sua rotina. Assim começa a série, com o suicídio da narradora, e a surpresa que sua atitude provoca nas amigas mais íntimas.

A partir daí, Mary Alice conta, de uma perspectiva bastante peculiar, a vida de suas grandes companheiras: Susan Mayer, uma ilustradora de livros infantis, divorciada, que cria a filha sozinha; Lynette Scavo, que trocou uma carreira de sucesso na publicidade para cuidar da família; Bree Van De Kamp, uma perfeccionista doentia, que está prestes a ter sua família contra si; e, por fim, Gabrielle Solis, uma ex-modelo sedutora que sempre consegue o que quer. Ontem, assistindo a um dos episódios da primeira temporada da série, um diálogo entre as personagens Lynette, Bree e Susan alojou-se em meu pensamento.

Na cena em questão, Lynette “surta” por não se considerar uma boa mãe e esposa, por sentir pesar-lhe uma culpa imaginária, por pensar ser a única impotente em meio a tantas guerreiras invencíveis. É neste momento de aparente fracasso da personagem que surgem Bree e Susan, que dizem à amiga que, no fundo, todas também passaram pelos mesmos medos e angústias que Lynette. Só o escuro do quarto as conhecia intimamente. Ao ouvir a revelação das companheiras, a angustiada exclama: “Vocês deviam ter me contato isso antes. Com certeza, teriam me ajudado”.

Embora de olhos secos, meu coração molhou diante da TV. Quantas coisas nós também deveríamos contar para libertar alguém de nosso silêncio? Devíamos contar aos nossos amigos o quanto são importantes para o nosso equilíbrio vital, o quanto são valiosos os conselhos, ainda que equivocados, e os abraços, ainda que sorrateiros. Devíamos contar para nossos companheiros o quanto é bom tê-los por perto, a tamanha felicidade que sentimos por poder segurar aquela mão debaixo do cobertor em uma noite fria de domingo. Devíamos contar o que matamos, mas ainda quer viver; o que negamos, mas devíamos afirmar.

Devíamos dizer mais vezes o quanto somos gratos por aquela pessoa ter aparecido na hora certa, por ter impedido que você fosse àquela festa, onde certamente veria os dois juntos. Devíamos contar que não sabemos tudo, que gostaríamos de aprender, que erramos, mas queremos acertar; que neglicenciamos, mas queremos libertar. Devíamos contar que mentimos quando verbalizamos demais, que pesa em nós não ter perdoado, que dói dentro o que fugiu de nosso controle fora. Devíamos contar para deixar livre o que em nós fica preso; e lateja. Devíamos falar para desentalar a garganta, para desengasgar o choro, para nos libertarmos de nossas amarras existenciais. Devíamos contar por contar, para deixar fluir, pro rio seguir o curso normal. Devíamos contar para libertar a nós mesmos.

7 comentários:

  1. esse é sem dúvida um dos melhores, se não o melhor seriado q já vi..

    a vida seria bem mais simples se compartilhássemos nossos medos e anceios..
    alegrias e tristezas..

    uma pena que nem todos conseguem agir assim
    com facilidade!!

    mas uma vez, arrasou na crônica amigo!!
    te amoo!! =)

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  2. Mt lindo o texto amigo, ameei..
    Concordo plenamentee.. compartilhar é necessario, ajuda bastante no nosso crescimento.
    Te amoo
    abração de seu fã

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  3. nuss...
    sem comentarios ne..
    sera q algum dia eu vou achar algo que vc escreve +/-, ou será sempre tudo tao perfeito???

    disse TUDO aí na cronica... sem comentarios msm..

    amo-te mto!

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  4. como eu sempre digo,
    excelente !
    mas essa crônica em especial me chamou a atenção pro fato ocorrido na série e pra comparação que você fez ..
    eu ja parei muitas vezes pra pensar que nao era bom em nada e que muitas das vezes não servia pra nada ._.' e graças aos meus amigos não passou de pensamentos ruins e desnecessários mas como mostra a série, acho que todos temos que passar .. e é por isso que hj eu valorizo tanto as minhas amizades por conta disso ! é onde eu tenho certeza que posso sempre me apoiar (y) .. mais uma vez lippe, parabéns ! ficou excelente :D~ abração do maurette o/~~

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  5. arrazou!
    sempre gostei de ler o que você escrevia no jornal amor.
    Hoje descobri o site, e prometo q nao saio mais daqui!
    rsrs,
    Esta veio em boa hora, eu realmente era uma dessas que devria contar, ao invés de viver escondendo!
    haha mais uma vez obrigada !
    enfim
    beijo!
    adoro vc !

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  6. DEVÍAMOS CONTAR TANTAS COISAS...
    EU CARREGO DENTRO DE MIM UMA DOR QUE SEU CONTAR COM CERTEZA MAGOARIA A PESSOA QUE MAIS AMO EM TODA MINHA VIDA, POR ISSO PREFIRO GUARDÁ-LA DENTRO DE MIM, NO MEU "MUNDO DE DENTRO", PARA NÃO VÊ-LA FERIDA.O QUE CAUSA DOR EM MIM EU NÃO QUERO QUE CAUSE EM OUTREM,PREFIRO FAZÊ-LOS SORRIR,FAZ A VIDA SER UM POUCO MELHOR E TUDO VALER A PENA,POIS TUDO PASSA NESSA VIDA, MOMENTOS FELIZES PASSAM E TRISTES... AH!ESSES TAMBÉM PASSAM!
    CAROTTA PARABÉNS,A CADA DIA MELHOR!
    UM ABRAÇO DA AMIGA QUE LHE AMA MUITO
    GRAZZIELA BAGALHO.

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  7. não sou mt de falar, e acho que isso vem desse jeito meu de querer guardar tudo pra mim, não gosto de mostrar o que eu to sentindo ou pensando na hora, até pq eu sei que mt gente me odiaria e nem olharia mais na minha cara se eu falasse tudo o que tenho engasgado aqui dentro, mas prefiro nao magoar as pessoas de quem gosto, prefiro guardar aqui dentro e me machucar, eu sei que é errado, mas a gente nao pode fazer tudo certo sempre né. adorei a cronica, um dia eu paro pra assistir desperate housewifes, adooro ;*

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