terça-feira, 13 de setembro de 2011

Torres Gêmeas

Até poucos instantes atrás, eu estava de pé, com todas as minhas centenas de andares bem alicerçadas. Eu era um pentágono; nós éramos duas torres gêmeas, gigantes e aparentemente inabaláveis. De repente, você disparou palavras, fechou janelas, atirou bombas nas saídas de emergência, vedou minha entrada à sua vida. A partir daí, a queda durou poucos milésimos de segundos, não demorou muito para que meu edifício inteiro viesse ao chão, me resumindo a pó. Fui atingido por dois aviões e, num piscar de olhos, meus sonhos desabaram. Só vejo fumaça em minha frente, não sei se a felicidade ainda respira debaixo de tantos escombros. Eu, por exemplo, já não respiro mais.

No meio da tragédia, meu pulmão apenas troca substâncias com o ambiente externo, porque meu ar – você – acabou de virar poeira. As paredes da minha vida foram destruídas, o teto se foi e, agora que está chovendo, não tenho abrigo para escapar da tempestade, não tenho em quem me proteger do frio. Estou lançado aos restos, ao pouco que sobrou do muito que existia, às músicas que um dia foram companhia, mas que, neste momento, não passam de solidão. O bombardeio foi tão rápido que não tive como fugir dele, aliás, eu nem sequer previa que dinamites estavam prestes a me mandar pelos ares. Boom!  Voaram pedaços meus para todos os lados.

Não tenho noção de como sobreviverei sem você e eu formando as torres gêmeas, sendo obrigado a me deparar com luto onde, ainda ontem, era festa em meu coração. Não posso imaginar como suportarei acordar, amanhã, e não ser banhado pela sua alegria, e não ser regado pela sua presença. Acho que, daqui pra frente, vou morrer aos poucos, pois minha terra ficará árida e não suportarei a secura. Minhas pétalas murcharão, pouco a pouco, e as rugas que aparecerão em meu rosto serão sintomas dos anos que se passarão a cada dia que eu conviver com a sua ausência.

Pode parecer exagero, no entanto, agora, sinto-me ruir, a tal ponto que, se pudesse, ligaria o sinal de emergência dentro de mim. Por favor, salve-se quem puder, salvem-me também. O pior é que não há janelas das quais eu possa me jogar e escapar do que acontece em minha mente, estou aprisionado no meio do fogaréu, e não existem bombeiros capazes de aliviar as dores que as chamas provocam. Minha alma deu perda total: teve 100% de sua extensão devorada pelas labaredas.

Amanhã ou daqui mil anos, verificando a paisagem, tenho certeza que ainda verei os sinais da tragédia, os milhares de cadáveres em que meus sonhos se transformarão ao fim do martírio, as cinzas dos planos que escrevíamos. Quando abrir os olhos, terei que me deparar com a certeza de que meus dias se acabaram, de que fui lançado numa noite sem fim, de que as torres gêmeas já não existem mais. Nós já teremos desabado, e, mesmo vivendo, eu já terei morrido.

2 comentários:

  1. Parabéns, me vi nesta cronica, lutando para sobreviver...te amo. beijos

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  2. Essa ocasião foi um desastre horrível, porém as pessoas que estavam dentro da Torre não esperavam o ataque, e foram pegas de surpresa, e sem culpa, ou com a culpa de não ter culpa alguma, porque estavam fazendo seus afazeres normais, e seguindo o q o "mestre" mandava, se empenhando em seus trabalhos e trabalhando com total eficiência e de forma excelente, porém do nada, lhes foi arrancado suas perpectivas e sonhos, mas ainda assim, poucos, mas únicos sobreviveram.

    Thiago Cardoso

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