quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O garoto que não sabia

Do outro lado do espaço, entre o planeta dos que se perderam e a galáxia dos que nunca se encontraram, mora um garoto que tem mais de 20 anos ou, quem sabe, um idoso com quase um século de memórias. De repente, atingida por meteoros, a gravidade dos seus sonhos puxou o rapaz para o planeta Terra... Adeus, universo de noites em baladas sem fim; os robôs que nada sentiam foram deixados pra trás. Porém, ele não sabia que, mesmo transformando-se em humano, poderia continuar visitando a lua e brincando com o sol – e que, inclusive, é isso que nos torna de carne e alma. Ele não sabia que ainda podia se vestir de estrelas.

Já no Planeta Azul, passou a morar num edifício gigante, um arranha-céu de dezenas de andares, situado bem no meio de seu mundo. Sem elevador e sem ter como descer do mais alto patamar de si mesmo, o menino vivia à espera de alguém que pudesse libertá-lo da torre, onde seus traumas e medos o assombravam, pintados na parede. O garoto não sabia que tranças só salvam nos contos de fadas, nem imaginava que, para alcançar a liberdade, seria necessário se entregar num salto pleno e sem volta, no qual seria possível prever se os pés agüentariam o impacto de tocar o solo da realidade ou se os olhos suportariam o clarão de enxergar a luz do dia.

Ajudado por um homem, pulou, e, mesmo com o sorriso cheio de escoriações e um abraço quase aleijado, conseguiu se recompor. Entre caixas eletrônicos que respiravam e espantalhos sem cérebro, o garoto encontrou um leão, suficientemente corajoso para compreendê-lo – talvez, um bondoso homem de lata, ávido por conseguir encontrar alguém que lhe desse um coração ou o ajudasse a reconstruir o seu, tão destruído pelas enchentes, tão devastado pelos terremotos. Mas, o garoto não sabia como retribuir a quem lhe estendera a mão... E, por não ter aprendido como ser solidário, ainda lhe diziam que ele, sim, é quem era o burro.

Convencido de que não prestava para nada, o garoto que não sabia decidiu que o melhor era voltar para sua torre e conviver em seus becos escuros, mesmo que isso lhe matasse a alma, mesmo que isso lhe custasse a vida. No entanto, após tentar, inúmeras vezes, retornar para o edifício, percebeu que é impossível voltar atrás no caminho, que os rastros do ontem desaparecem um após o outro, e que o passado era um lugar no qual ele jamais poderia por os pés novamente. Infelizmente, ele não sabia que as lágrimas choradas poderiam construir pontes para o futuro e que as dores, cicatrizadas, representariam o aprendizado que faz nascer flores onde o presente já parece agonizar.

E, assim, o garoto, que não sabia irrigar o próprio solo, resolveu partir e, como um sem terra, começou a construir sua moradia na vida dos outros. Tornou-se um apaixonado pelas sombras, alguém que sentia o coração palpitar ao simples vulto do carinho de alguém, que não sabia que amor só nasce em terra que foi preparada e que admiração e confiança necessitam de sementes boas para brotar. O rapaz seguiu amando, ora alguém que apenas tinha passado para lhe deixar uma carta, ora alguém que somente tinha surgido para lhe roubar um sorriso. Novamente machucado e impedido de colher, visto que a aragem foi toda feita em território que não lhe pertencia, o garoto foi expulso da vida de pessoas que amava.

Hoje, o garoto procura um modo de se reconstruir, mas ainda não percebeu que ninguém irá lhe trazer os pedaços que lhe faltam, afinal, cada um de nós também tem suas próprias partes para recolher. Agora, deste lado do espaço, entre o planeta dos que querem se encontrar e a galáxia dos que nunca desistirão, mora um garoto que não tem idade, que não conta seu tempo em anos e que, embora continue sem saber em que universo ficou, já descobriu, pelo menos, que o sol sempre volta para os que não se entregam. E a felicidade também.

2 comentários:

  1. Parabéns, sou suspeita em dizer que este é umas das mais lindas escritas por ti...
    Nunca desista de teus sonhos.
    Te amo, beijokas em ti meu flho tão amado.
    Tua mamica.

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  2. Oii Felippe, tudo bom? Adorei o texto...muito significativo, bem escrito e com palavras que nos fazem refletir. Parabéns... vc tem um grande futuro no jornalismo. Bjs da sua "coleguinha"...rsrsrs Mariana

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