sexta-feira, 17 de junho de 2011

Imaginação insone

Estou deitado, já é madrugada, mas minha mente insiste em não pregar os olhos. Parece que um carro acabou de estacionar na rua da minha casa... O motor foi desligado. Será que um casal de namorados está aproveitando a noitada para acender seus corações? Ou será que é um simples viajante, que parou pra descansar porque não sabe para onde ir? Deve estar perdido, assim como meus pensamentos. Ouço os ruídos do carro e, num piscar de olhos, me vejo dentro do veículo. Que estrada tomar? Que rumo seguir? Se fosse tão fácil decidir isso, eu já teria puxado o freio de mão e seguido em frente, não estaria enguiçado numa esquina qualquer, já teria dado gasolina aos meus sonhos. O carro ainda está lá na rua, mas minha mente já foi pra longe... Mais uma vez, avançou o sinal vermelho.

De longe, ouço cães latindo. Silêncio... Pode ser que um ladrão esteja invadindo a residência e o animal tenha se assustado, pode ser que eu esteja sendo violado e não tenha ninguém para rosnar por mim. Au, au, au! O cachorro não para de latir. Será que tem alguém estranho entrando na casa? Tem sim. Eu. Ou será o marido infiel que está voltando da gandaia, na pontinha dos pés, pra esposa não desconfiar? Ele, com o cheiro da outra; ela, que comprou um novo perfume e só queria ser sentida, sorvida junto com seu aroma. Será que ela vai ficar com a pulga atrás da orelha e descobrir a pulada de cerca? E eu, será que vou me descobrir? E dá-lhe latidas! Não paro de escutar estes sons... São de dentro ou de fora?

Escutei um carro passando na estrada. Suponho que seja de uma família, que vai curtir o final de semana em outro lugar... Ei, ei, me leva junto? Meu coração é imenso, mas acho que cabe no porta malas. Se não der, a gente o amassa pra caber, afinal, um arranhão a mais, um a menos, que diferença vai fazer? Vai, me leva. Eu quero tanto ir. Aliás, não precisa. Deixa pra lá. Acho que já fui, estou na estrada junto com os carros, me dirijo pelas curvas sem respeitar a velocidade máxima, estou a 100 por hora, será que vai dar tempo de virar, não sei tirar o pé do acelerador, se frear posso acabar derrapando, se for em frente posso acabar batendo...

O cão parou de latir e o carro que estava parado em frente à minha casa acabou de sair. O motor foi ligado novamente e, agora, ouço-o se distanciando, seus ruídos vão ficando cada vez mais inaudíveis. Qual será o próximo som da madrugada, que músicas ainda vou ouvir antes do sono me alcançar, que filmes ainda passarão na minha mente antes que a madrugada os apague? Escuto o som e imagino seus possíveis emissores, me coloco no lugar de cada um dos viajantes que vejo passar diante da janela, mergulho nas ondas sonoras emitidas por um dos passarinhos que se dependuram em minhas janelas. O que terá feito o cachorro ficar quieto? E a mim, e meu coração que não para de rosnar, quem vai calar? Para onde foi o carro que, poucos segundos atrás, estava há alguns metros de mim? Será que foi pra longe, seguido por meus pensamentos? Todos dormem, mas minha imaginação, sim, é que insiste em se manter acordada.

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