terça-feira, 19 de abril de 2011

A paixão de todos nós

Contrição, agonia, dor, redenção. Palavras que evocam uma sensação de silêncio são sempre mais utilizadas para definir os traços de expressão dos dias da Semana Santa. Na tradição católica, a época marca os últimos momentos da vida de Jesus, os instantes finais de seu caminho rumo à cruz. Do encontro com Maria à instituição da Eucaristia, Cristo vai passando pelos últimos minutos de sua vida, que já eram, em si, a antecipação do próprio calvário.

Nós também, dia a dia, vamos vivendo pequenas e grandes paixões, sofrimentos que duram muito mais que três dias, espinhos que nos fazem chorar lágrimas de sangue. Há aqueles que são feridos pela crucificação de seus sonhos. Sobem as ladeiras da vida com suas cruzes pesadas sobre os ombros, sem saber em que monte serão, finalmente, pendurados ou em que lugar algum bom Cirineu os ajudará na escalada. Esses, sofrem com o deboche dos que pensam ter conseguido a glória, mas que, no fundo, não passam apedrejadores de si mesmos.

Há aqueles que carregam coroas de espinhos por dentro, chagas que não são visíveis a olho nu. As palavras deles são amargas como vinagre e suas desilusões transformam-se em lanças, que são mais perigosas do que qualquer arma de fogo. Eles têm a verdade da mentira estampada no rosto e, com um beijo na face, são capazes de trair quem mais os ama na vida.

Há aqueles que trazem, pregadas no coração, esperanças. Querem se transformar em alguém que possa enxugar o suor do rosto cansado dos caminhantes, mas para isso precisam da promessa do paraíso, do perdão no momento em que só a morte era aguardada. Esses, erraram muito, mataram muitos sorrisos e sepultaram asas, no entanto, desejam tornar a sujeira de suas águas no vinho da salvação. Derramaram sangue e viram inocentes pagarem por crimes que não cometeram, e, hoje, têm a intenção de não lavar as mãos nos momentos em que, para fazer o que é certo, for essencial sujá-las.

Há aqueles que, sem escolha, se lançaram, por conta própria, às mãos de quem irá negá-los antes mesmo que o galo cante três vezes. Há os que se doam aos pés de nossas cruzes. A esses, a gratidão eterna está garantida.

Paixões essas, umas pequenas, outras gigantes, todas eternas. Sepulcros escuros, para onde somos lançados antes da hora, cheios de medo, inseguros, muitas vezes sem motivo. O que nos resta é o esforço e a prece para que, num terceiro dia qualquer, também nós possamos ressuscitar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário