terça-feira, 4 de maio de 2010

Lado materno

Buscando fugir dos textos clichês que marcam o dia das Mães todos os anos, pus-me a pensar no que poderia ser escrito diante de uma data tão esgotada. Observo há muito tempo a relação de algumas mães com seus filhos, e não tem como negar: na maioria dos casos, o amor das genitoras por suas crias é, realmente, algo inestimável – embora eu discorde da conivência implícita em diversas expressões deste sentimento.

Cá com meus botões, cheguei a uma conclusão inusitada. Extra! Extra! Todos nós somos capazes de ser mãe, tendo ou não um útero. Em todas as ocasiões em que damos a luz ao feto de nossos sonhos ou ensinamos um amigo a caminhar, tomando-o pelas mãos com paciência e amor, estamos exercitando o lado materno que todos trazemos no peito.

Um homem pode até não ter condições de parir um bebê, mas não duvido de que seja capaz de gerar para este filho um abrigo e um abraço quente. Quem disse que isso também não é ser um pouco mãe está redondamente enganado. Existem milhares de pais que são mães em tempo integral, que não podem amamentar seus pimpolhos nos seios, entretanto, os alimentam com o leite que brota do coração, com o vigor que só as palavras de quem ama é capaz de dar.

Portanto, se analisarmos bem, todos nós já fomos mães um dia. Eu fui um pouco mãe daquele amigo que não sabia falar de amor e eu ajudei, fui um pouco mãe daquela criança que alimentei ontem na rua, fui um pouco mãe daquela pessoa que não sabia ouvir a si própria e eu ensinei. Não tenho útero e nem sou capaz de dar a luz a uma criança, mas sou um pouco mãe daquela pessoa que amo e procuro arrancar de dentro do próprio silêncio, daquela amiga insensata que bebe além da conta e precisa da minha bronca para ser domesticada.

Com certeza, mesmo que a biologia e a ciência digam que não, você também já exercitou seu lado materno um dia. Você foi mãe daquela ex-namorada que você ensinou a correr com alegria pela vida, foi mãe daquele cara que você conheceu na balada e nunca mais reviu, mas que naquele momento se alimentou das poucas palavras de amor e da atenção que você dispensou a ele. Você foi mãe daquele irmão que se perdeu nas drogas e te procurou, mãe da sua mãe, quando ela deprimiu e você precisou dar a luz aos sonhos e ao mundo dela.

Pode até ser que não exista com tanta força, mas não consigo conceber que o lado materno existente em grande parte das mães não esteja presente também em nós, independente do sexo. Somos todos mães adotivas de alguém. A verdade é que a mãe biológica de todos os filhos é a vida. Sendo assim, fica a minha homenagem àquelas mães que o são porque optaram por amar quem não saiu de seu útero, que pode até não existir, e levaram estes filhos por opção para dentro do melhor ventre que existe: o coração.

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