quinta-feira, 20 de maio de 2010

Quem sabe

Desde quando nascemos, quase nenhuma certeza nos é dada. A única definição que trazemos dentro de nós, desde sempre, é a de que, um dia, inevitavelmente, morreremos. Não sabemos como e nem onde. Não temos noção se seremos atropelados por um louco embriagado, que pegou o carro após ter bebido todas para curar uma dor de amor, ou se, de uma hora para outra, nos aparecerá um caroço nas axilas, selando assim o nosso encontro definitivo com a dona Morte. O que seremos quando crescer? Será que amadureceremos? Amanhã vai fazer sol? Ele volta na semana que vem? Quem sabe...

Opa, segura a onda aí. Se fiz perguntas, quero respostas. Algum matusalém se atreve a arriscar? Eita expressãozinha cruel essa: “quem sabe”, formada gramaticalmente por um pronome interrogativo e pela conjugação da segunda ou terceira pessoa do singular do verbo saber.

Na língua portuguesa, um significado; na vida da gente, outro. “Quem sabe” expressa a fragilidade e vulnerabilidade de nossas certezas, a impotência diante do futuro e a confissão de que não, não sabemos o que será o amanhã. Há um grupo que diz saber. Mentira. Não sabem.

Ao final da relação, ela perguntou: “tem alguma chance de, algum dia, voltarmos a namorar?”. A resposta dele? “Quem sabe”. Após uma briga feia com seu pai em uma manhã pacata de domingo, ele saiu às pressas de casa. A mãe gritou e a voz alcançou-o na rua: “Filho, será que um dia você volta?”. “Quem sabe”, sussurrou pra dentro. Morou durante anos no mesmo bairro daquela cidadezinha do interior e, quando chegou a hora da mudança, o menino pensou: “Quando voltarei? Quando vou rever o que fica de mim nessas paredes?”. “Quem sabe”, respondeu a si mesmo.

Quem sabe se o amor da sua vida volta, se você será selecionado amanhã para uma entrevista de emprego, se uma discussão com sua namorada vai culminar no término do relacionamento, se um professor que não vai com a sua cara lhe dará nota dez na apresentação do trabalho de português, se teria sido mais conveniente falar, se calar foi a melhor saída? Quem sabe se um dia você irá esquecê-lo, se você vai amar outra mulher, se o bilhete que você jogou na mega sena está premiado, se existem chances de você conquistar aquela gatinha que mora do outro lado da rua? Bendito pronome interrogativo aliado ao verbo supremo: saber.

O “quem sabe” é a porta entreaberta dentro de nós, a chance de dar uma escapulida ao passado como quem vai ao mercado. É esperança, incerteza, ausência de definições. Será que vai dar certo? Quem sabe. Será que ele vem jantar? Quem sabe. No espaço de uma expressão dessa, cabem uma carga de angústia e um punhado de dúvidas prisioneiras.

No fundo, chego a conclusão que o máximo que conseguiremos alcançar em um universo repleto de possibilidades é o “achismo”, o risco, o chute. Não dá para nos agarrarmos às nossas certezas e vivermos “bebendo” ideologias pessoais como verdades eternas e inquestionáveis. Ser flexível e aberto a novos conceitos faz parte de um aprendizado livre. Quem sabe é a ferida aberta por não saber e, o que não sabemos, sempre nos dói.

Um comentário:

  1. Muito boa a sua reflexão sobre os sentimentos humanos, as incertezas e indecisões que resultam em "quem sabe". Acho muito legal isso de falar de emoções, e você faz isso muito bem. Parabéns!

    Cris (da van do Carlinho) =)

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