segunda-feira, 1 de março de 2010

Coração congelado

Minha decisão está tomada: vou congelar meu coração. Aproveitem os últimos batimentos quentes deste coração que mais parece uma alegoria de escola de samba: batuca tanto, que me deixa surdo; tem tantas cores, que me confunde; tantas alegorias, que me perco; este meu coração tem tanto samba que sou eu quem acabo dançando no fim das contas.

Vou congelar meu coração antes que ele endureça, vou paralisá-lo para que ele não continue me paralisando diante de inúmeras circunstâncias da vida. Nem me venha com estes clichês como os que eu tinha antes de tomar esta decisão. Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três... Coração vendido para o Pólo Norte, exportado para as terras geladas, de onde seu calor não vai mais me deixar noites sem dormir, não vai me causar calafrios, não vai passar pela evaporação e se transformar em chuva que deságua pelos olhos. Tchauzinho, coração...

Estou dando adeus a este coração que tantas vezes me vez verbalizar o que deveria ter ficado calado, me despedindo deste moleque sapeca que sempre insiste em me pregar peças, me colocar em situações que me exigem paciência, conquista, espera. Não quero mais este coração que me testa, que me põe à prova todos os dias, encharcado de amor pelos outros, de amor, amor, amor... Pronto: por ser tão teimoso, já estou te colocando no freezer.

Vai passar uns tempos no congelador pra aprender a ser coração de gente, e não este coração que poetiza, enche a vida de lirismos e personagens, mas depois não sabe como dar fim à história de cada um deles. Meu coração é um artista de primeira grandeza, Leonardo da Vinci purinho. Pinta quadros que ninguém vê, esculpe sentimentos que ninguém aproveita, compõe canções e as expõe em um teatro vazio. Enfim, é completo: até escrever ele escreve. É uma pena que não saiba modificar os rumos dos próprios capítulos.

É por ter este coração tão sem vergonha, sem pedigree, é que estou aqui, encomendando uma forma de mandá-lo direto para a era glacial. Mas, ele é forte, resiste, insiste, não entra no caminhão, não perde o fôlego nem o ritmo. Tem tanto calor que derrete até a minha vontade em extraviá-lo.

Meu coração é de carne, do gênero humano, mas resiste ao gelo. Mesmo abaixo de zero, não congela nem petrifica. Ele não me obedece, só escuta a própria voz, só segue a própria intuição.

Pensando mellhor, ainda bem que nenhum gelo é capaz de petrificar meu coração, de impedir que ele me aqueça e queime, pois um coração congelado representaria o congelamento da minha própria vida, que, isolada em seu resfriamento, acabaria morrendo de frio.

6 comentários:

  1. Parabéns pelo texto!
    Mais um que gostei muito viu!?
    Ainda não nos encontramos no MSN não é? rsrsrs
    Já adicionei você hein!Abração!

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  2. Nossa meu querido..
    vc foi fundo.. todos tentam isso em algum momento da vida...mas acabamos por entender que nada melhor que o fogo, que o calor, pois e isso que nso faz acordar todas as manhas e viver!!
    "Meu coração é um artista de primeira grandeza, Leonardo da Vinci purinho. Pinta quadros que ninguém vê, esculpe sentimentos que ninguém aproveita, compõe canções e as expõe em um teatro vazio."
    amei tanto esse trecho que ate postei no meu twitter !!
    vc e mt perfeito.. amo suas tao delicadas palavras..
    bjnhos e desculpa nao poder estar sempre aqui!
    (Bárbara Terra)

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  3. O seu coração é tão PERFEITOO
    Que jamais qualquer GELO entraria nele...
    vc é puro amor.
    seu sorriso aquece, seu abraço mais ainda
    me diz ONDE É QUE ENTRARIA GELO AII ,NESSE HOMEM QUE ME FAZ TÃO FELIZ.

    Sucesso meu amigo*-*

    SUA Papaula

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  4. Pode deixar que nos encontraremos por lá sim!
    Espero que esteja curtindo os textos lá no meu blog também...
    Psse sempre por lá viu?

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  5. não congela seu coração não :(

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  6. Incrível! Adorei muito.

    Um beijo

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