
Automaticamente, parei na cena. Foi como se meus olhos estivessem assistindo a um trecho emocionante de um filme. E era, com a diferença de que aquele drama me era transmitido ao vivo e, sim, fazia parte da vida real. Por alguns instantes, que me pareceram longos minutos, meus olhos só conseguiram enxergar o moço. Não foram suas lágrimas, que pareciam doídas e verdadeiras, que me chamaram a atenção. O que gritou em mim naquele roteiro foram as entrelinhas, o que estava implícito na cena, o que nem aquelas lágrimas poderiam revelar.
Qual seria o motivo que levava aquele jovem, aparentemente saudável e bonito, a despejar, em praça pública, toda sua miséria? Um rompimento amoroso, a perda recente de um amigo, a revelação de que sofria de uma doença em estado terminal? Ou seria porque seus pais morreram, porque não conseguiu conquistar a menina que ama ou não passou para o vestibular? Será que chorava uma perda ou um ganho, uma travessia ou uma chegada, um beijo que não foi dado ou beijos demais? Seja lá qual for o motivo que levava o rapaz as lágrimas, sem dúvidas, são semelhantes aos que nos levam a chorar dentro do quarto em uma tarde insossa de domingo ou em uma noite agitada de sábado.
O choro exposto do rapaz da jaqueta preta o tornava sozinho em meio áquela multidão. Seus olhos molhados instalavam uma barreira entre sua realidade individual e o mundo dos outros. Ele não parecia se preocupar com os espectadores do momento por qual passava, não se incomodava com os possíveis burburinhos que seu drama poderia estar causando em inúmeras outras pessoas. Chorava e ponto. Isso era tudo naquele instante. De repente, tive a mera impressão de que ele estava me olhando mas que, de repente, desviara seu olhar do meu, possivelmente temendo que eu me aproximasse e o abordasse. Confesso que tive vontade de fazê-lo, entretanto, me detive em mim mesmo e preferi manter a distância.
Sem mais nem menos, ele levantou-se e se foi. Como tudo aquilo que parte sem que possamos dizer “adeus”, fiquei agarrado àquele gigante ponto de interrogação. Poderia eu ter feito alguma coisa por aquele jovem? Esta história jamais sairá de minha cabeça, bem como não esquecerei o rapaz da jaqueta preta. As férias acabaram e é chegado o momento de a maioria das pessoas se reencontrar com o cotidiano. Fica, então, o desejo de que consigamos reencontrar as partes que nos fazem falta, os sentimentos verdadeiros que quase sempre ficam esquecidos dentro. Se você estiver ausente de si mesmo, não demore a retornar e, em sua volta à vida, feliz reencontro com o que deseja. Principalmente para aquele rapaz.