segunda-feira, 3 de junho de 2013

Seu Geraldo

Conheci Seu *Geraldo num grupo de convivência que estou frequentando. Um homem de meia idade, que seria mais um machão qualquer se não tivesse se confessado tão frágil. Ah, Seu Geraldo, estou admirado com sua maneira de exercer a masculinidade, sem ferocidade ou músculos aparentes. Tenho certeza que suas principais articulações estão principalmente na alma, tão calejada pelos percursos da vida. Seu Geraldo, me ensina a ser você? Ou melhor: me ensina a ser eu? Eu queria aprender a ser grave como a sua voz, e também abafada, já que tenho sido constantemente atropelado pela minha mania de me esparramar por fora, sem me ajuntar por dentro.

Seu Geraldo, como é a vida? Envelhecer dói? Os dias vão à nossa frente, ou é a gente que fica pra trás? Cinquenta anos equivalem à certeza de 50 invernos dolorosos, ou ao calor de 50 verões derretidos? O tempo caminha ou corre, rasteja pra longe ou se esguia por perto, é possível dar tempo ao tempo, o tempo me dá ou me tira? De amor se morre ou se vive? Não finja que não sabe as respostas, continue testemunhando as vezes em que esteve cara à cara com a vida, porque estou agora numa queda de braço, e não sou forte como o senhor para vencê-la. Como faz pra ser frágil e ao mesmo indestrutível? Sua sinceridade é um muque, um soco certeiro em minhas dúvidas inconsequentes.

Então, Seu Geraldo, me leve para tomar um pouco de ar, pois enquanto o senhor se disser capaz de cair eu terei certeza de que o belo também enruga, fica inchado de hematomas, mas nunca o deixa de ser porque é eterno. Se o senhor continuar a chorar, vou finalmente me convencer de que a alegria existe, porque suas lágrimas me parecem órfãs de um riso longínquo, que ainda está aceso como a última brasa da churrasqueira, vermelho como o sol que se põe. Não pare, Seu Geraldo, se esgoele, grite sobre seus problemas, esfaqueie seus medos, deixando-os sangrar até o fim. Fazendo isso, o senhor me ensina a diferença entre sucesso e conquista: sucesso passa, é efêmero, cai junto com a noite, enquanto a conquista é duradoura, quieta, é o aplauso que damos a nós mesmos.

Não me venha com essa de desistir, Seu Geraldo. Caso o senhor feche a porta daquela sala e saia, não sei até quando continuarei a flertar com o medo. Prometo que ficarei quieto, em silêncio, apenas acompanhando seu jeito de pintar com as sobrancelhas, sua forma de ser rígido e tão compreensivo ao mesmo tempo. Não vou atrapalhar, eu juro. Portanto, Seu Geraldo, não vá dormir sem me dar boa noite, fala sobre a vida e me deixe conjugando o verbo viver. Se assim for, minha jornada naquela sala será mais fácil, pois continuarei sonhando em ser você, enquanto o senhor me ensina a ser eu.

*Geraldo é um nome fictício, mas, graças à poesia, esta história não.

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