quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Bala perdida

Sempre tive noção de que estamos, hoje em dia, cada vez mais vulneráveis ao que os outros dizem. Porém, só recentemente é que descobri – e senti na pele – o quanto. Fui vítima de uma fofoca, de uma flecha que dispararam contra mim e que me atingiu em cheio. O alvo foi certeiro: uma relação profissional que eu começava e que, de repente, foi manchada pelo veneno de alguém, que, muito provavelmente, jamais saberei o nome. Foram apenas comentários, mas, sem dúvidas, causaram estragos como se fossem bombas. Uma Hiroshima inteira de amizade foi pelos ares em poucos segundos.

Com isso, cheguei à conclusão de que quase todos nós, em algum momento de nossas vidas, já fomos atingidos por palavras que, disparadas ao relento, nos acertaram quando menos esperávamos. Não fui o primeiro e com certeza não serei o último. Me arrisco a dizer que se eu fizer uma pesquisa na esquina será impossível encontrar uma pessoa que nunca tenha levado este tiro, nem que seja de raspão.

Talvez algumas tenham sido atingidas apenas de leve, ficaram machucadas, mas não chegaram a perder um braço de confiança ou algo pior. No entanto, outras foram metralhadas, estavam no meio do tiroteio de comentários maldosos e nem sabiam, eram a ‘capa’ do jornal do bairro e nem imaginavam. Essas, perderam bem mais do que uma companhia para ir à festa ou algo menor; viram seus sonhos sofrerem com paradas cardíacas, sua reputação ir parar num quarto de CTI, sua dignidade respirar através de aparelhos. Há, ainda, aquelas que foram vítimas fatais: perfuradas pela língua alheia, testemunharam sua alegria sangrar até o fim.

“Onde há fumaça há fogo, acreditam todos, o que transforma toda fofoca numa verdade em potencial. Não há fofoca que compense. Se for mesmo verdade, é uma bala perdida. Se for mentira, é um tiro pelas costas”. Neste trecho de uma crônica de Martha Medeiros, ela está coberta de razão. O cara é casado e, depois do expediente, para num restaurante para dar força à amiga do trabalho, que está em frangalhos porque se separou do marido. Em instantes, passa a dona Clotilde, vizinha do homem, e avista a cena. Pronto! Em instantes, o gesto de amizade, que não tinha nenhuma malícia, transforma-se em motivo de fofocas, que se espalham como rastejo de pólvora, e, horas depois... Bang, bang, bang! O rapaz foi atingido e o casamento dele sofre sérias perfurações. E o pior é que nem sequer podemos prever de onde virão os tiros.

E, assim, vamos vivendo, na iminência de, a qualquer momento, nos surpreendermos com uma bala perdida, com algo que inventaram sobre nós e está prestes a nos ferir, com um comentário falso que chegou aos ouvidos do nosso chefe e que nos custará o emprego, com o silêncio dos tiros que, disparados ao pé do ouvido de nossos amigos, farão com que a confiança que eles têm em nós se machuque. São tiroteios aos quais sobrevivemos – ou não – todos os dias, pequenas violências que nos acertam no momento em que menos esperamos. Quando estamos distraídos e nos sentindo protegidos por nossos coletes à prova de fofoca, uma bala perdida surge do nada e... Bang! O tiro nos pega pelas costas.

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