sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mundo interno

Mesmo acompanhando apenas de longe, sempre admirei o trabalho da cantora e compositora italiana Laura Pausini. Mais recentemente, adquiri um CD da artista, que, por sinal, acho que já deve estar furado: não consigo parar de ouvi-lo. Só agora percebo o quão talentosa ela é. Com sua voz noturna e canções que são tão musicais quanto poéticas, Laura me seduziu, me fez ter vontade de aprender espanhol, de dobrar a língua e desafinar, enquanto ela soa doce como uma flauta.

Elogios à parte, uma das músicas de seu repertório me chamou mais atenção. Trata-se da faixa “Antes de irte”, que tem alguns simples versos capazes de nos fazer grudar os ouvidos... no coração. “O que você sabe de um mundo interno que não vê? Se serei forte ou chorarei? O que você pode saber?”, questiona Pausini durante o refrão da canção.

O que podemos saber dos outros é o pouco que deixam vazar, são rélis paisagens, aperitivos de seu mundo interno, é uma centelha do universo que trazem dentro de si mesmos. Sabemos dos sorrisos, mas nem sequer desconfiamos das lágrimas choradas em plena noite de sábado, dos relacionamentos que apodreceram quando pareciam amadurecer, dos troféus perdidos no momento em que a vitória já era dada como certa, das sementes que não vingaram, dos amores que terminaram antes da hora, dos sonhos que viraram pesadelos.

Cada ser humano é habitado por um mundo interno que telescópio nenhum permite ver. Às vezes, esta Via Láctea fica mais longe do que imaginamos, a milhões de quilômetros de distância do nosso alcance, de modo que somente o foguete de um olhar amoroso teria chance de nos levar até lá. Neste nosso planeta, existe a grande dificuldade de aceitar os alienígenas, pois temos medo de que eles descubram nossas riquezas e as destruam, de que roubem nossas estrelas, de que cortem nossas árvores e locais de sombra, de que tornem nosso céu escuro e sem oxigênio.

Buscando fugir da degradação de nossa própria sustentabilidade, escondemos as aves raras de sentimentos que voam dentro de nós, secamos nossas fontes de petróleo, tornamos o mar de nossas vidas salgado demais, apenas para impedir que alguém sobreviva nele. Há preciosidades em nós, mas, ao passo em que as exterminamos, a gente é que entra em extinção. Não se revelar também é uma pequena morte.

Quantos de nossos sentimentos já mofaram por falta de ar puro? Quantas vezes já não nos sentimos sufocados ao fechar portas e janelas, bloqueando o acesso dos outros ao nosso mundo? É claro que cada pessoa tem o seu “infinito particular” sagrado, um altar que é só vitrine pra fora, onde só entra quem for convidado. Restringir os selecionados é essencial, pois sair convidando todo mundo é coisa de gente triste. Porém, o que fazer com nosso mundo interno sem ninguém para habitá-lo? Eis o nosso paraíso, o Éden de cada um. Que sejam bem vindos aqueles que não quiserem profaná-lo.

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