terça-feira, 8 de março de 2011

Mulheres artificiais

Se até o início da década de 30 as mulheres brasileiras não tinham nem direito ao voto, o ápice da vitória desta classe é que, hoje, uma delas é a presidente do país. Sem dúvidas, elas estão no poder e há muito tempo já deixaram de lado o rótulo de “sexo frágil”: elas dirigem, elas fazem compras, elas disputam de igual pra igual com os homens no mercado de trabalho, elas são bem sucedidas, e, ainda assim, elas são mães, medrosas, vitoriosas, mulheres.

Mesmo diante de um quadro marcado por grandes avanços da classe feminina, um detalhe me assusta: a quantidade de individuas que estão se deixando fabricar-se em laboratórios. Mulheres que não assumem a idade e se tornam inimigas do tempo, lutando contra ele por meio de cosméticos, cremes, bronzeamentos artificiais e plásticas. Não sou radicalmente contra os artifícios adotados para retardar um suposto “envelhecimento”, mas me preocupo com a deformação que eles estão provocando na vida de muitas dessas vencedoras. De maquiagem em maquiagem, o verdadeiro rosto vai ficando soterrado embaixo do pó e do blush, até que um dia ele se esquece como abraçar os outros.

“Uma mulher bonita não é aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja inteira aparência é de tal beleza que não deixa possibilidades para admirar as partes isoladas.” A autoria da frase é atribuída ao filósofo Sêneca e ela cai como uma luva para a reflexão que se faz pertinente em meio às comemorações de mais um Dia Internacional da Mulher: depois de terem conseguido, finalmente, um lugar ao sol, por quê elas não o aproveitam cada vez mais? O exagero da vaidade está descolorindo a obra de nossas guerreiras.

Que graça têm frutas de plástico? Nenhuma, pois perdem o sabor e o viço, ficam sem paladar e transformam-se em peças artificiais, que só são bonitas quando vistas de longe. Assim também ocorre com as mulheres: quando se tornam de cera, derretem quando estão em frente ao espelho. O olhar, lotado de rímel, deixa de possuir a singeleza da flor do campo, e, sem pétalas, perde o brilho. Os lábios carnudos, desenhados com plástica, podem até representar o padrão estético do século XXI, mas não expressam a verdade do que fora substituído.

A luta das mulheres até aqui foi gigantesca para que elas permitam que tudo se resuma a sombras e apelo sexual. Tanta pintura está fazendo com que as obras de arte, antes belas e atraentes, caiam na situação deplorável dos muros pichados. Rugas, marcas, estrias e celulites não são mais perigosas do que a possibilidade de ter um rosto tão artificial quanto uma fruta de mesa.

Um comentário:

  1. Eu estou de pleno acordo. E tem mais, os homens nem fazem questão disso tudo. Eles querem a delicadeza da mulher, a simplicidade, o tal "menos é mais"...né?

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