terça-feira, 29 de março de 2011

A beleza do patinho feio

Conheço um lindo patinho feio. Mesmo sendo diferente dos belos cisnes – estando aí seu arco íris –, pois possui um corpo gordinho e rechonchudo, a beleza dele é a mais verdadeira de todas. O patinho feio é naturalmente bonito, de modo que não depende de aparências para ser legitimado como tal. O problema é que ele, cansado de ser desprezado, decidiu que quer ser como os outros: um cisne magro, que logo de cara chame a atenção, que não precise de esforços para ser elogiado nem querido.

O patinho feio que conheço tem esperanças geladas, tanto que, transformadas em gelo, elas derretem quando expostas ao sol da realidade. Detesta espelhos, pois o enfrentamento com sua própria imagem o coloca em um ringue contra si mesmo, e, este duelo, o patinho sabe que não pode vencer. Tudo que o lembra a respeito de suas curvas é rejeitado, porque ele não acredita que alguém possa amar uma fera ferida enquanto há tantas belas por aí.

A poesia de seu olhar toca a paisagem ao redor, deixando tudo colorido, no entanto, dentro dele há páginas empoeiradas e envelhecidas, às quais ele se agarra, pois acredita que são um meio de voltar a ser o que ele nunca foi um dia. O patinho feio cresceu ouvindo que era diferente dos demais e acatou as rasuras como verdade. Por isso, ele detesta que mintam pra ele. No fundo, sabe que bastam as farsas que ele mesmo inventa para sobreviver, como se fosse impossível suportar o peso que acha que tem.

O sonho do patinho é ser magro e robusto como seus amigos, é ser escolhido numa vitrine, pinçado entre tantos bichinhos de pelúcia. Ele estava cansado da solidão da prateleira, de viver encoberto. Ao mesmo tempo em que rejeita os sorrisos de plástico e combate as vidas descartáveis, estando aí sua maior beleza, o feio mais belo que conheço tem o desejo de chegar às alturas e ser coroado com as estrelas, de subir na lua e, lá, ganhar apenas um abraço. Hoje, ele tem a companhia de um outro pato, que ele mais do que tudo na vida, pois o enxerga como um foguete, como uma possibilidade de ir até o infinito.

Este patinho carrega a chave de todas as belezas dentro de si, tendo-as guardadas. Sabe os segredos do universo e surfa com as palavras, mas tem medo de se afogar nessas ondas. Ele voa, voa... E, de repente, chora como se seus olhos fossem nascentes, de onde, milagrosamente, brotam lágrimas doces. Tem as asas mais belas que já vi: sonhos e imaginação.

Quem me dera conseguir contar ao patinho feio o quanto ele é de ouro e de nuvens, o quanto me alegro e me orgulho de seus dons de anjo, o quanto faz milagres com o olhar, o quanto muda destinos, o quanto é belo e feito de chuva, o quanto ele é querido por um belo cisne que, por amor, se transformou em pato, enfim, o quanto me sinto feliz e abençoado por ser ele.

Um comentário:

  1. (Cris)
    Que linda reflexão, e acaba sendo mais uma confissão de amor, um amor com bases fortes e que não necessita de aparências para manter acesa a chama.

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