quarta-feira, 21 de julho de 2010

No colo

O Brasil inteiro está acompanhando o drama da atriz e apresentadora da TV Globo, Cissa Guimarães, que perdeu seu filho caçula de forma trágica. Sendo uma das figuras mais carismáticas e expressivas da classe artística, Cissa está recebendo o apoio de inúmeros colegas de trabalho, que, o tempo todo, enviam a ela mensagens de consolo e profunda solidariedade.

Acompanhei várias dessas declarações de amizade à artista, mas uma, em especial, me chamou mais atenção: a da novelista Glória Perez, que, em 1992, passou por uma situação bastante semelhante. A autora sentiu a dor da perda de sua filha, a atriz Daniela Perez, brutalmente assassinada por um companheiro de elenco.

Sobre a morte do filho de Cissa, pelo Twitter, a escritora se manifestou através das seguintes palavras: “Tudo o que eu queria era botar a Cissa no colo. Força, amiga! Te abraço em silêncio...”.

Em sua declaração, Glória ofereceu à amiga o que de melhor pode haver em momentos como este: um colo que dispense qualquer palavra.

Existem situações na vida que dispensam palavras – a morte é a principal delas. Diante delas, reagimos sempre de modo clichê, oferecendo ajuda material, falando demais, verbalizando os pêsames, quando, na verdade, um gesto bastaria para, ao menos, amenizar a dor de algo muito maior do que nosso vocabulário.

Frente a uma trágica perda ou ruptura, como não sentir-se acolhido no colo de quem se ama? Dentro de um colo quente, o inverno parece mais brando, o frio da dor, aos poucos, passa a não nos congelar tanto, já que estamos embalados pelos sentimentos calados de alguém muito especial. Mesmo em silêncio, isso diz muito.

Um colo verdadeiro para o tempo, transformando o instante: embalados por ele, ficamos tão pequenos que aprendemos a ser grandes de novo. Viramos crianças, prestes a conhecer os mistérios de momentos que palavra nenhuma é capaz de preencher: basta a respiração de alguém por perto para dar-nos a sensação de que é possível seguir em frente.

E este colo muitas vezes pode ser oferecido, como bem citou Glória Perez, em silêncio, sem que os ruídos do mundo interfiram na ligação profunda e verdadeira que existe entre olhares que se abraçam sem precisar de mãos.

No colo, no abraço, na mão estendida e nos demais gestos que não carecem de dramatizações ou palavras, tudo pode acontecer. Inclusive, um coração avariado pode sentir-se freado e encontrar novamente o ritmo certo de suas batidas, percebendo que só morre quem deixa de existir dentro de nós.

Sei que é costumeiro sermos todos redundantes diante dos momentos tristes e que temos boa vontade em encontrar frases que possam amenizar a dor de quem amamos. No entanto, não há palavras mais verdadeiras e sutis do que aquelas que dizemos sem precisar dizer nada. O melhor consolo do mundo é dentro de um colo onde cabemos inteiros, sem precisar deixar a dor do lado de fora.

Um comentário:

  1. O melhor consolo do mundo é dentro de um colo onde cabemos inteiros, sem precisar deixar a dor do lado de fora.
    e o segundo melhor é vc amigo,que sempre tem as palavras certas na minha vida!

    te amo e vc sabe! Ana Paula

    ResponderExcluir