quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ensaio sobre a cegueira

Já havia lido a obra original, escrita por José Saramago, mas foi assistindo à versão cinematográfica de “Ensaio sobre a cegueira” que tive a oportunidade de visualizar melhor inúmeros detalhes da trama. Sem dúvidas, este é um dos melhores livros que já li – e o filme também não fica muito atrás.

A história gira em torno da epidemia da chamada “cegueira branca”, que, após atingir, subitamente, um motorista no sinal, contamina toda uma região – inominável – e seus moradores – que também só são identificados por características –, sem que nenhum motivo aparente seja descoberto para o surgimento deste mal. Apenas uma mulher fica livre da doença e, durante toda a saga, permanece com a visão intacta, enxergando o horror e o caos em que se transformou o reino dos cegos.

Seria impossível mencionar todos os detalhes da obra aqui, pois são muitos e um acaba sendo mais interessante que outro. Porém, o que fica claro em diversos pontos da narrativa, tanto no livro quanto no filme, é que aquilo não passa de uma metáfora da sociedade em que vivemos, onde os olhos de milhares de indivíduos foram invadidos por um “mar de leite”. Assim como na ficção, nossa cegueira também é branca: estamos envoltos na superficialidade de uma luz que não nos permite ver o que, de fato, importa.

Num mundo cada dia mais capitalista e apegado às coisas tangíveis ao olhar, nossa visão está limitada, ancorada na rasura daquilo que pensamos ver, mas que não passa de uma projeção de nossa cegueira. Somos cegos que, vendo, não vêem. Nossa cegueira é tão branca que nos ofusca a vista, impedindo que sejamos capazes de perceber a beleza de momentos que escuridão nenhuma é capaz de cegar.

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome; essa coisa é o que somos.” Esta frase está no livro de José Saramago e também é pronunciada, de forma similar, no filme. Cegos, estamos nos deixando guiar pela brancura efêmera do prazer e do dinheiro, o que nos distancia cada vez mais dessa “coisa”, inominável, que somos. A cegueira de que sofremos é cruel, pois pensamos enxergar tudo, entretanto, quando abrimos, de fato, os olhos, somente a solidão nos faz companhia.

Nosso olhar é limitado, mas nossa visão pode ser infinita. Para nos salvar do náufrago da cegueira, é preciso que saibamos enxergar além do que os olhos nos permitem, encontrando a “coisa” que cada um de nós traz guardada dentro de si.

Casamentos estão em queda mais do que a bolsa de valores, alunos agridem professores e dão aulas no quesito criminalidade, relacionamentos começam e terminam num piscar de olhos, sentimentos são banalizados como se fossem mercadorias, pessoas são compradas como se fossem produtos. O caos já está instalado ao nosso redor. Por essas e outras, estamos todos ficando cegos.

Um comentário:

  1. Aii, quero ve esse filmee!

    "é preciso que saibamos enxergar além do que os olhos nos permitem, encontrando a “coisa” que cada um de nós traz guardada dentro de si."

    adoreei e concordo!

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