domingo, 10 de maio de 2009

Passeio no shopping


Ela adorava passear no shopping. Em meio a lojas, perfumes e boutiques, sentia-se disfarçada, imersa em um universo onde não tinha a necessidade de ser ela mesma o tempo todo. Outro ponto positivo nestas rondas entre escadas rolantes e salas de cinema é que encontrava reunidas suas grandes paixões em um só lugar: homens e vestidos. Talvez por desejar tanto estes dois “ítens”, considerados indispensáveis para que sua vida cotidiana ganhasse sentido, ela os tratasse de igual para igual. Ambos, em linhas gerais, eram vistos como “peças do vestuário”, aquilo que serve para disfarçar as imperfeições da alma e fazê-la desfilar sempre bela, ainda que bela não estivesse quase nunca. Eram prioridades.

Entrou em uma loja à procura de um vestido vermelho cintilante, com tons de verde fluorescente. Este serviria para chamar a atenção, para sentir-se viva, desejada. Por sorte, ou azar, não havia nenhuma peça com estas descrições. Mas, havia um outro. Não era como o idealizado, mas, vá lá, ok. “Fico com este”, disse ela, conformada. Este se chamava Bruno. Definitivamente, não sentia a menor atração por ele, no entanto, era o único disponível. Sendo assim, contentou-se, mas não por muito tempo. Os dias passaram e ela percebeu que aquele “vestido” não era dela, não tinha a sua cara. Só o “vestia” por comodidade, pela ausência de outro, por medo da solidão e da companhia de si mesma.

Não deu certo e ela foi à caça novamente. Lojas, boutiques, salas de cinema. O cenário de sempre. “Deve haver outro vestido por aqui”, pensava. Entrou na loja e, logo de cara, notou uma “peça” jogada, triste, no canto da prateleira. Parecia pedir socorro, ajuda. Teve pena. Eduardo era seu nome. Por piedade, “vestiu”. Aquele vestido estava sujo, mal cuidado. “Preciso cuidar dele”, suspirou. Saiu dali se sentindo a mais bondosa das pessoas, o mais humano dos seres. Mandou limpar o vestido, costurou, remendou, fez o que podia e até o que não devia. Até o dia em que sentiu necessidade de usar algo por amor; não por pena. Viu que era boa demais com ele e egoísta demais consigo mesma.

Recomeçou o martírio. Ela sabia que não era daqueles “vestidos” que precisava, mas os queria mais do que qualquer coisa. Este, talvez, era o erro: querer mais os outros do que a si mesma. Resolveu, em um surto psicótico, experimentar todos quanto pudesse. Vestiu Juliano. “Não, não. Este deixa à mostra minhas perfeições, me torna insegura”, decidiu. Próximo: Carlos. “Impossível! Este me faz sentir gorda. É muito bonito e seu brilho me ofusca”, lamentou. “Há algum mais?”, perguntava-se. Havia sim e se chamava Vinícius. “Este é chato, um sentimetalóide nato. Não dá”. Esta foi a conclusão derradeira. E assim seguiu, em busca do vestido que fosse torná-la mais jovem, bonita, elegante, aceita...

Ufa! Ela experimentou até dizer “chega”. Se tivesse ido além de onde foi, se arrependeria ainda mais. Com o tempo, e com as experiências frustradas pela ânsia destruidora de querer encontrar em alguém aquilo que ela mesma havia perdido, percebeu que não encontrou o “vestido” certo porque, no fundo, não sabia o que queria, o que buscava, qual cor preferia. Todos foram escolhidos para tapar buracos na cratera do coração, para disfarçar as lágrimas e conter a solidão de um sábado a noite. Sua ansiedade era o grande algoz da história. Resolveu agarrar a si mesma pelo colarinho e resolver seus dilemas. Os passeios no shopping ganharam novo sentido. E, quanto aos vestidos, estes se tornaram possibilidades.

12 comentários:

  1. Oi meu amigo, mais um lindo textoo! Gosto de suas cronicas pq me ajuda a párar pra pensar e rever mt os meus conceitos, me ajuda a pensar na vidaa e no que eu quero de melhor pra mim! Agradeço mt por vc existir em minha vida e tenho certeza q mts agradecem por vc escrever lindamente!
    Sucesso hj e sempre.

    Pedro.

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  2. bem criativo, gostei!!
    Att,
    Lucas Almeida!

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  3. Amigo !
    lindo o texto, o meu vestido eu acho q ja o encontrei, ou nao.. ele eh um numero superior, nao sei talvez inferior ao meu, mas eu quero ele.. mesmo q eu nao possa usa-lo, vou deixar ele aqui no meu armario guardadinho, e eh este vestido que vai marcar a minha vida, como se fosse o vestido de um aniversario de 15 anos ou do casamento, hoje ele serve para outras pessoas, mas nao importa tenho uma copia dele guardada soh pra mim. Suas crônicas são perfeitas amigo. te amo !! Renan

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  4. MARAVILHOSO!!!
    acho q poucas vezes um texto mexeu tanto cmg...
    to arrepiado mais uma vez...
    PERFEITAO amigo...
    abç

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  5. já estou ficando chato e redundante ao dizer isso, mas depois d ler um belíssimo texto como esse, não me resta mais nada a fazer, do que dizer, q mais uma vez vc - ARRASOU!!!
    "um vestido perfeito, mas q não me cai bem!!"
    rs.. foda - foda - foda!!!
    adorei amigo... te amo!! S2

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  6. Taí Barra do Piraí ganha um verdadeiro jornalista e um ótimo escritor.É disso que todos nós precisamos.Uma boa leitura.Amigo parabéns os textos são ótimos,me vi neles.
    Mais uma vez vc arrasou como sempre.

    beijos te amo S2
    Nathy

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  7. me identifiquei em certas partes.__.
    adorei *______*

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  8. ~ Você sempree arrazaa !!!
    Adorei =]

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  9. Parabéns, mais uma vez vc consegue com palavras tocar em lugares especiais, inimagináveis nas pessoas. Q essa singularidade permanessa senod multiplicada pelas pessoas.
    te amo amigo
    thiago GLADIADOR

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  10. é verdade amigo, o ser Humano sempre faz escolhas erradas, sempre queremos algo dos outros que na verdade nem de nos mesmos temos!
    pra que ter um belo 'vestido' se não saberemos como usa-lo??

    TA de PARABÉNS cada dia ta melhor
    Te amo sucesso pra ti ;

    ANA PAULA RIBEIRO

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