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Como sempre, utilizando sua capacidade de nos sugar para dentro de suas narrativas, o escritor português me causou espanto com as palavras acima. Sem dúvidas, concordo com ele. Que mais se levanta do chão? Nós. A vida.
Do chão se levanta uma mão que pede ajuda ou um abraço para socorrer quem quer descer. Se levantam os versos e o silêncio, a poesia da chuva que cai e evapora, o mistério da semente que é plantada e não germina, o susto que há na fertilidade em meio ao podre do lamaçal. Do chão se tiram muito mais do que hortaliças ou legumes: se arrancam lições e aprendizados. Do chão se levantam os bebês, mas nem sempre os adultos: muitas vezes é ali que eles ficam pro resto da vida.
Do chão se levantam os pés fadigados, o passo que quer ir adiante, o repouso que cansou de esperar, as esperanças que resolvem por pegadas na estrada. É do chão que partem os começos e é lá que eles, após transformar-se em finais, se espatifam, estilhaçados pela ação do que não conseguiu pousar. Do chão a água se levanta e volta. Do chão viemos e para ele voltaremos, quando não for mais possível se levantar. Do chão se levantam os que caíram, mas nem sempre os vencedores: muitos ganharam dos outros, entretanto, perderam para si mesmos.
Também do chão pode levantar-se um grito, como um galho de uma árvore ou tatu bravo. Ou um gavião. Ou estrelas. Enfim, cá estou outra vez a sonhar e a ver poesia se levantando do chão, onde se encontram, provavelmente, agora, muitos dos homens a quem me dirijo.
Baixar o Documentário - José Saramago – Levantado do Chão http://is.gd/GvtZmn
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