Eu tinha de 16 para 17 anos quando comecei a
escrever crônicas e insistia para que meu amigo e irmão, o jornalista Frank
Tavares, as publicasse no O BARRENSE. Relendo hoje, com um pouquinho mais de
experiência, admito: os textos eram de dar dó. Mas era preciso que alguém
acreditasse, conforme aconteceu, para que houvesse a oportunidade do
aperfeiçoamento. Esse alguém para mim, além do Frank, tem nome e sobrenome:
Norival Garcia da Silva. E é porque ele acreditou que eu, agora, me dou ao
direito de não acreditar na despedida… Jamais será possível dizer adeus a quem
pretendo reencontrar eternamente em minhas lembranças.
Não tem mais nem meio mais, Seu Norival. Hoje, a
ordem é do coração e da saudade, é do som da sua voz saindo da sala no fundo da
redação, é da fumaça de um cigarro para sempre aceso na janela… Está decidido:
não sairemos do ar. Pode deixar o sinal sobre a porta do estúdio aceso, em
vermelho escarlate, escrito em letras garrafais: NO AR. A sua voz rouca, de
alguma maneira, será companhia para a dona de casa que cozinha com o rádio
grudado no ouvido, vez ou outra você vai contar uma piada para o aposentado
carrancudo sorrir e pedir mais um copinho de cerveja, bem gelada, é claro,
porque de quente já basta a dor da saudade que começa a ser transmitida neste
momento.
É na memória que nos eternizamos, ficam partes
da gente guardadas dentro de cada um que se lembra de nós, como se as
recordações fossem cremadas e se multiplicassem feito grãos de areia na praia…
E somos espalhados por aí, em um causo de infância contado pelo melhor amigo,
na foto que ela guarda com carinho, no frasco de perfume vazio que ficou na
prateleira do banheiro. A cada vez que um ouvinte sintonizar uma emissora do
Grupo RBP, receberá um pouco do Seu Norival; nas páginas deste jornal, ficam as
impressões digitais dele, que vai cumprimentar a cada leitor sempre que chegar
às bancas semanalmente. Seu Norival continuará nestas palavras, é manchete
vitalícia, estampada para sempre em nossas primeiras páginas.
Já que o senhor, Seu Norival, acreditou em mim,
eu vou acreditar no rádio e na comunicação, na força do verbo que o aproximou
dos barrenses durante décadas. Vou continuar acreditando naquela caroninha
esperta que o senhor me dava nas manhãs em que eu estava mais atrasado, e fazia
vista grossa para o meu horário, afinal, quem se importa com que horas são
agora? Se o relógio insistir no ponteiro do adeus, me perdoe, mas vou
contrariá-lo, igual aos minutinhos a mais que o senhor me dava quando eu fazia
um programa na RBP FM. Peraí, apenas mais um segundo, deixa eu tocar só mais
uma música, é melhor ficar aqui na cabine, nas páginas do jornal, nos números
do dial, no coração medido em frequências modulares, na sintonia da saudade…
Porque o senhor, Seu Norival, vai ficar para sempre no ar em nossos corações.