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Seu Geraldo, como é a vida? Envelhecer dói? Os dias vão à nossa frente, ou é a gente que fica pra trás? Cinquenta anos equivalem à certeza de 50 invernos dolorosos, ou ao calor de 50 verões derretidos? O tempo caminha ou corre, rasteja pra longe ou se esguia por perto, é possível dar tempo ao tempo, o tempo me dá ou me tira? De amor se morre ou se vive? Não finja que não sabe as respostas, continue testemunhando as vezes em que esteve cara à cara com a vida, porque estou agora numa queda de braço, e não sou forte como o senhor para vencê-la. Como faz pra ser frágil e ao mesmo indestrutível? Sua sinceridade é um muque, um soco certeiro em minhas dúvidas inconsequentes.
Então, Seu Geraldo, me leve para tomar um pouco de ar, pois enquanto o senhor se disser capaz de cair eu terei certeza de que o belo também enruga, fica inchado de hematomas, mas nunca o deixa de ser porque é eterno. Se o senhor continuar a chorar, vou finalmente me convencer de que a alegria existe, porque suas lágrimas me parecem órfãs de um riso longínquo, que ainda está aceso como a última brasa da churrasqueira, vermelho como o sol que se põe. Não pare, Seu Geraldo, se esgoele, grite sobre seus problemas, esfaqueie seus medos, deixando-os sangrar até o fim. Fazendo isso, o senhor me ensina a diferença entre sucesso e conquista: sucesso passa, é efêmero, cai junto com a noite, enquanto a conquista é duradoura, quieta, é o aplauso que damos a nós mesmos.
Não me venha com essa de desistir, Seu Geraldo. Caso o senhor feche a porta daquela sala e saia, não sei até quando continuarei a flertar com o medo. Prometo que ficarei quieto, em silêncio, apenas acompanhando seu jeito de pintar com as sobrancelhas, sua forma de ser rígido e tão compreensivo ao mesmo tempo. Não vou atrapalhar, eu juro. Portanto, Seu Geraldo, não vá dormir sem me dar boa noite, fala sobre a vida e me deixe conjugando o verbo viver. Se assim for, minha jornada naquela sala será mais fácil, pois continuarei sonhando em ser você, enquanto o senhor me ensina a ser eu.
*Geraldo é um nome fictício, mas, graças à poesia, esta história não.