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Há dentro de mim uma cidade cenográfica, um palco de teatro, uma estrutura “hollywoodiana”. Mocinhos, vilões, heróis, antagonistas... Há personagens que perderam o sentido dentro da história, mas ainda não tive coragem de descartá-los. Existem também atores que não comparecem aos ensaios e, por isso, acabam realizando tudo que querem no improviso, na hora “H”. Tenho dentro de mim um elenco secundário que não permito que seja fotografado, que fica sempre nos bastidores. Esse não distribui abraços pela rua e nem sai na capa do jornal. Egoísta que sou, talvez esteja privando o mundo do meu lado mais intocável e assustador, que costuma quase sempre ser o melhor.
Quando olho pra dentro e pergunto “Quem será o próximo a se pronunciar?”, vejo dezenas de mãos levantadas. Noto a presença de inúmeros homens e também de algumas mulheres. Quando todos resolvem falar ao mesmo tempo, o que vem acontecendo com freqüência diante dos últimos acontecimentos, é difícil distinguir qual voz tem mais chance de acertar, qual está mais inclinada ao erro, qual tem mais razão. Acho que será preciso eleger um síndico para orientar os moradores desse prédio, antes que a confusão se torne maior. Alguns desses moradores andam se estranhando aqui dentro e temo que a qualquer momento tenha início uma revolução. Só não sei decidir quem eu quero botar pra fora...
Há em mim lágrimas, que de tão doídas, só escorreram pra dentro. Há sorrisos íntimos que não quis dar pra fora, amores não resolvidos que ainda perfuram, paixões que já nem sei, mágoas que já nem lembro, dores imaginárias que parecem reais. Meu mundo interior se resume a canções que esqueço a letra, a pessoas que nunca fui, a humanos que quero ser e ao choque entre o passado e o presente, que constantemente se esbarram querendo decidir qual é o lugar de cada um. Existem aqui dentro histórias inacabadas, trechos emocionantes de um livro, cenas eletrizantes do próximo capítulo da novela e momentos nostálgicos de uma super produção de cinema. Há uma TV sempre ligada na saudade.
Enfim, confesso: é complicado bater o martelo quanto a escalação de mim mesmo para o próximo momento de minha vida. Até que ponto posso controlar quem está no comando, quem será o diretor da próxima cena? E a respeito do que já passou, que segurança tenho de que guardei na memória o suficiente para alimentar-me daqui pra frente? Amo ou não amo, sinto ou não sinto, ando ou fico parado, sumo ou apareço? Quem de mim está lúcido? Qual precisa rapidamente de um analista? Sou capaz de mudar de opinião várias vezes ao dia, alterno com facilidade entre o claro e o escuro. Alguém mais quer falar? Ninguém responde. Não importa... A vida segue sendo determinada por detalhes, por uma palavra que você não esperava ouvir e, por fim, escutou.